Arquivo de junho 4, 2012

Pauta:

1. Informes

2. Esclarecimento sobre a greve

3. Ato em Brasília

4. Calendário de Reuniões e atividades do comando

5. DCE

6. Avaliação do Sarau

7. Esclarecimento sobre os campi avançados

 

1. Informes:

  • O ANDES divulgou que o senado aprovou a abertura de 43 mil vagas pra professores nas instituições federais;
  • Sexta feira houve reunião com os professores no sentido de pensar atividades conjuntas, houve propostas de uma festa junina e uma festa de Rock, além da articulação conjunta no CONSUN, também pensaram em tirar reuniões conjuntas com os professores.
  • Os professores que representaram o comando docente vão levar as propostas dos estudantes para o comando. Para além da postura dos professores é preciso manter coerência com a nossa luta.
  • Houve contato no facebook do comando de greve da UFU pelo pessoal da UFLA pedindo esclarecimentos sobre a greve, no entanto não houve resposta pois a comissão de comunicação não discutiu com o comando.
  • Sobre a viagem para BH, não houve como mandar pessoas da UFU além dos militantes da UJS por falta de interesse da UEE em garantir as passagens de tod@s os representantes do Comando Local de Greve Estudantil.
  • Foi feita passagem em sala no curso de contábeis e não houve interesse dos alunos desse curso sobre a discussão sobre a greve, tampouco se mostraram dispostos a paralisar as aulas.
  • Estudantes foram ao campus da EDUCA, e constataram que o campus está doto parado, no entanto fizeram contato com um membro do DA para discutir sobre a greve. Colocaram que é possível incluir pautas específicas dos estudantes da educa na plataforma de reivindicação discente. Avaliou que é necessário que o comando estudantil realize atividades nos outros campi, não podemos ficar restritos ao Santa Mônica.
  • Na UFMG o assunto da greve está chegando e os estudantes estão se articulando. Entraram em contato com o comando estudantil da UFU.
  • Não foi possível chamar uma reunião extraordinária no CONSUN pois não é possível fazer isso numa reunião extraordinária como foi a de sexta-feira
  • Em relação à UEE, o Diego da Geografia informou que haviam várias forças políticas presentes (3 da UEE, 1 ANEL, 1 membro de cada comando de greve de MG). As pautas discutidas eram 10% do PIB para educação; 1,5 bi para assistência estudantil; contratação de técnicos e professores de forma emergencial, entre outras. Se quisermos estar presente no comando estadual de greve é necessário discutir e enviar representação.
  • A assembléia dos técnicos foi antecipada para amanhã, dia 05 de junho.
  • O campus de Monte Carmelo está praticamente parado, quem não parou é porque ainda estão fechando algumas provas, depois vão parar.

Encaminhamentos:

2. Esclarecimentos sobre a greve.

a. Comissão de comunicação deverá sistematizar as informações sobre a greve já levantadas pelo histórico feito, pelo esclarecimento do DA Direito, etc., em um documento único, como um boletim informativo sobre a greve, que servirá para mediar as intervenções nas salas de aula e atividades do comando.

b. Intervir a favor da paralisação do calendário acadêmico no CONSUN, que deverá ser marcado para o dia 13 de junho (a confirmar). Porém a paralisação do calendário é uma estratégia de atuação institucional, burocrática, mas não deve ser a principal reivindicação política do comando estudantil, esta deve ser o atendimento da nossa plataforma de reivindicações. A mobilização para o próximo CONSUN deverá ser debatida na próxima reunião.

3. Caravana para Brasília (05 de junho)

a. Propor uma reunião dos comandos de greve

b. Propor um único comando de greve unificado nacionalmente com construção democrática pela base

c. Fazer reuniões do comando de greve local antes de tirar qualquer posicionamento para o comando nacional

d. Balizar nossas intervenções em âmbito nacional a partir da nossa plataforma de reivindicações construída em assembléia estudantil.

e. Discutir a questão do comando de greve estadual, que ainda não foi discutido.

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Às 13 horas atingiu-se o teto da reunião e não foi possível discutir os pontos 4, 5, 6 e 7 da pauta, ficando para a próxima reunião agendada para quarta-feira, 6 de junho, 14 horas no DCE.

 Fonte: http://andesufrgs.wordpress.com/2012/05/27/o-governo-dilma-a-greve-nacional-dos-docentes-e-a-universidade-de-servicos-por-roberto-leher-ufrj-5/

A longa sequencia de gestos protelatórios que levaram os docentes das IFES a uma de suas maiores greves, alcançando 48 universidades em todo país (28/05), acaba de ganhar mais um episódio: o governo da presidenta Dilma cancelou a reunião do Grupo de Trabalho (espaço supostamente de negociação da carreira) do dia 28 de maio que, afinal, poderia abrir caminho para a solução da greve nacional que já completa longos dez dias. Existem algumas hipóteses para explicar tal medida irresponsavelmente postergatória:

(i) a presidenta – assumindo o papel de xerife do ajuste fiscal – cancelou a  audiência pois, em virtude da crise, não pode negociar melhorias salariais para os docentes das universidades, visto que a situação das contas públicas não permite a reestruturação da carreira pretendida pelos professores;

(ii) apostando na divisão da categoria, a presidenta faz jogral de negociação com uma organização que, a rigor, é o seu espelho, concluindo que logo os professores, presumivelmente desprovidos de capacidade de análise e de crítica, vão se acomodar com o jogo de faz de conta, o que permitiria o governo Dilma alcançar o seu propósito de deslocar um possível pequeno ajuste nas tabelas para 2014, ano que os seus sábios assessores vindos do movimento sindical oficialista sabem que provavelmente será de difícil mobilização reivindicatória em virtude da Copa Mundial de Futebol, “momento de união apaixonada de todos os brasileiros”, e

(iii) sustentando um projeto de conversão das universidades públicas de instituições autônomas frente ao Estado, aos governos e aos interesses particularistas privados em organizações de serviços, a presidenta protela as negociações e tenta enfraquecer o sindicato que organiza a greve nacional para viabilizar o seu projeto de universidade e de carreira que ‘resignificam’ os professores como docentes-empreendedores, refuncionalizando a função social da universidade como organização de suporte a empresas, em detrimento de sua função pública de produção e socialização de conhecimento voltado para os problemas lógicos e epistemológicos do conhecimento e para os problemas atuais e futuros dos povos.

Em relação a primeira hipótese, a análise do orçamento 2012[1] evidencia que o gasto com pessoal segue estabilizado em torno de 4,3% do PIB, frente a uma receita de tributos federais de  24% do PIB. Entretanto, os juros e o serviço da dívida seguem consumindo o grosso dos tributos que continuam  crescendo acima da inflação. Com efeito, entre 2001 e 2010 os tributos cresceram 265%, frente a uma inflação de 90% (IPCA). Conforme a LDO para o ano de 2012, a previsão de crescimento da receita é de 13%, porém os gastos com pessoal, conforme a mesma fonte, crescerá apenas 1,8% em valores nominais. O corte de R$ 55 bilhões em 2012 (mais de 22% das verbas do MCT) não é, obviamente, para melhorar o Estado social, mas, antes, para seguir beneficiando os portadores de títulos da dívida pública que receberam, somente em 2012, R$ 369,8 bilhões (até 11/05), correspondente a 56% do gasto federal[2]. Ademais, em virtude da pressão de diversos setores que compõem o bloco de poder, o governo Federal está ampliando as isenções fiscais, como recentemente para as corporações da indústria automobilística, renúncias fiscais que comprovadamente são a pior e mais opaca forma de gasto público e que ultrapassam R$ R$ 145 bilhões/ano. A despeito dessas opções em prol dos setores dominantes, algumas carreiras tiveram modestas correções, como as do MCT e do IPEA. Em suma, a hipótese não é verdadeira: não há crise fiscal. Os governos, particularmente desde a renegociação da dívida do Plano Brady (1994), seguem priorizando os bancos e as frações que estão no núcleo do bloco de poder (vide financiamento a juros subsidiados do BNDES, isenções para as instituições de ensino superior privadas-mercantis etc.). Contudo, os grandes números permitem sustentar que a intransigência do governo em relação a carreira dos professores das IFES não se deve a falta de recursos públicos para a reestruturação da carreira. São as opções políticas do governo que impossibilitam a nova carreira.

Segunda hipótese. De fato, seria muita ingenuidade ignorar que as medidas protelatórias objetivam empurrar as negociações para o final do semestre, impossibilitando os projetos de lei de reestruturação da carreira, incluindo a nova malha salarial e a inclusão destes gastos públicos na LDO de 2013. O simulacro de negociações tem como atores principais o MEC, que se exime de qualquer responsabilidade sobre as universidades e a carreira docente, o MPOG que defende a conversão da carreira acadêmica em uma carreira para empreendedores e, como coadjuvante, a própria organização pelega que faz o papel dos truões, alimentando a farsa do jogral das negociações.

Terceira hipótese. É a que possui maior lastro empírico.  As duas hipóteses anteriores podem ser compreendidas de modo mais refinado no escopo desta última hipótese. De fato, o modelo de desenvolvimento em curso aprofunda a condição capitalista dependente do país, promovendo a especialização regressiva da economia. Se, em termos de PIB, os resultados são alvissareiros, a exemplo dos indicadores de concentração de renda que alavancam um seleto grupo de investidores para a exclusiva lista dos 500 mais ricos do mundo da Forbes, o mesmo não pode ser dito em relação a educação pública.

Os salários dos professores da educação básica são os mais baixos entre os graduados[3] e, entre as carreiras do Executivo, a dos docentes é a de menor remuneração. A ideia-força é de que os docentes crescentemente pauperizados devem ser induzidos a prestar serviços, seja ao próprio governo, operando suas políticas de alívio à pobreza, alternativa presente nas ciências sociais e humanas ou, no caso das ciências ditas duras, a se enquadrarem no rol das atividades de pesquisa e desenvolvimento (ditas de inovação), funções que a literatura internacional comprova que não ocorrem (e não podem ser realizadas) nas universidades[4]. A rigor, em nome da inovação, as corporações querem que as universidades sejam prestadoras de serviços diversos que elas próprias não estão dispostas a desenvolver pois envolveriam a criação de departamentos de pesquisa e desenvolvimento e a contratação de pessoal qualificado. O elenco de medidas do Executivo que operacionaliza esse objetivo é impressionante: Lei de Inovação Tecnológica, institucionalização das fundações privadas ditas de apoio, abertura de editais pelas agencias de fomento do MCT para atividades empreendedoras. Somente nos primeiros meses deste ano o Executivo viabilizou a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, um ente privado, que submete os Hospitais Universitários aos princípios das empresas privadas e aos contratos de gestão preconizados no plano de reforma do Estado (Lei nº. 12.550, 15 de dezembro de 2012), a Funpresp (Fundação de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais), que limita ao teto de R$ 3.916,20, medida que envolve enorme transferência de ativos públicos para o setor rentista e que fragiliza, ainda mais, a carreira dos novos docentes, pois, além de não terem aposentadoria integral, não possuirão o FGTS, restando como última alternativa a opção pelo empreendedorismo que ilusoriamente (ao menos para a grande maioria dos docentes) poderia assegurar algum patrimônio para a aposentadoria. Ademais, frente à ruina da infraestrutura, os docentes devem captar recursos por editais para prover o básico das condições de trabalho. Por isso, nada mais coerente do que a insistência do Executivo em uma carreira que converte os professores em empreendedores que ganham por projetos, frequentemente ao custo da ética na produção do conhecimento[5].

Os operadores desse processo de reconversão da função social da universidade pública e da natureza do trabalho e da carreira docentes parecem convencidos de que já conquistaram os corações e as mentes dos professores e por isso apostam no impasse nas negociações. O alastramento da greve nacional dos professores das IFES, o vigoroso e emocionante apoio estudantil a essa luta sugerem que os analistas políticos do governo Federal podem estar equivocados. A adesão crescente dos professores e estudantes ao movimento comprova que existe um forte apreço da comunidade acadêmica ao caráter público, autônomo e crítico da universidade. E não menos relevante, de que a consciência política não está obliterada pela tese do fim da história[6]. A exemplo de outros países, os professores e os estudantes brasileiros demonstram coragem, ousadia e determinação na luta em prol de uma universidade pública, democrática e aberta aos desafios do tempo histórico!

Rio de Janeiro, 27 de maio de 2012


[1]http://www.senado.gov.br/noticias/agencia/infos/info_orcamento_para_2012/ORCAMENTO_PARA_2012.html

[2] http://www.auditoriacidada.org.br/

[3] http://oglobo.globo.com/educacao/professor-ainda-pior-salario-4954397

[4] Mansfield, Edwin 1998 Academic research and industrial innovation: An update of empirical findings em Research Policy 26, p. 773–776.

[5] Charles FergusonA corrupção acadêmica e a crise financeira, disponível em: http://noticias.bol.uol.com.br/economia/2012/05/27/a-corrupcao-academica-e-a-crise-financeira.jhtm

[6] . Marcelo Badaró Mattos, Algo de novo no reino das Universidades Federais?

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* Professor Titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro na linha Políticas e Instituições Educacionais. Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1984), mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense (1989) e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (1998). Desenvolve pesquisa em políticas públicas em educação, com ênfase em educação superior e organismos internacionais e na área trabalho, educação e movimentos sociais. Coordena a seção Brasil do Observatório Social da América Latina do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO) desde 2002. Foi coordenador do Outro Brasil – Projeto Acompanhamento e Análise da Conjuntura Brasileira com apoio financeiro do Instituto Rosa Luxemburgo. Foi coordenador do Grupo de Trabalho "Universidad y Sociedad" do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO) (2004-2007). Integra Comitês Editoriais de vários periódicos entre eles Margem Esquerda, Outubro, Temporalis e Universidade e Sociedade. Entre as publicações mais recentes, destaca-se: Universidade, socialismo e consciência social: Florestan Fernandes na Revista Universidade e Sociedade. Universidade e Sociedade, 2011; Por una reforma radical de las universidades latinoamericanas. Rosário : Homo Sapiens Ediciones, 2010; 25 Anos de Educação Pública: notas para um balanço do período In: Trabalho, Educação e Saúde – 25 anos de Formação Politécnica no SUS ed.Rio de Janeiro : Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, 2010; Educação no governo de Lula da Silva: a ruptura que não aconteceu In: Os anos Lula: contribuições para um balanço crítico 2003-2010.1 Rio de Janeiro : Garamond, 2010; Braziian education, dependent capitalism and the World Bank In: Global neoliberalism and education and its consequences..New York-London: Routledge, 2009; É bolsista Sênior da Cátedra sobre desenvolvimento IPEA-CAPES (2011 e 2012) e pesquisador do CNPq. Certificado pelo autor em 15/03/12